Sem reformas estruturais, recuperação da economia não se sustenta

Um ano com eleições após um período marcado por denúncias de escândalos políticos e corrupção em diversos níveis, prisões de políticos e empresários, desvios em estatais, compra de favores, uma crise econômica que parece chegar ao fim. Esse foi o cenário de fundo para as palestras do economista Carlos Alberto Primo Braga e do consultor Rafael Cortez no primeiro dia da Expogestão 2018.

As ideias e considerações dos dois especialistas contribuíram para que os líderes empresariais presentes no Congresso tivessem mais subsídios para suas decisões estratégicas. Com uma análise profunda da economia e da política internacional e nacional, os especialistas apontaram tendências e os riscos no atual cenário. Os dois concordam em pelo menos um aspecto: sem reformas estruturais, a melhora na economia não se sustenta.

O mestre e doutor em Economia pela Universidade de Illinois, professor de Economia Política Internacional no IMD (Suíça), professor da Fundação Dom Cabral e ex-Diretor do Banco Mundial, Carlos Braga, trabalhou com exercícios de previsão dos caminhos possíveis da economia mundial e nacional. Em uma palestra bem fundamentada em números econômicos atuais e históricos, explicou que vivemos a era da ansiedade, com muitos riscos e probabilidades que geram incertezas. “Nunca vimos uma mudança tão dramática do centro econômico mundial como nos últimos 10 anos”, disse, citando a China e Índia como exemplos: “A China consumiu mais cimento em três anos do que os EUA em todo o século 20”.

O crescimento econômico mundial e a recuperação econômica no Brasil podem ser abalados por fatos como onda populista, crise nas democracias, tendências protecionistas e crescimento da dívida global, entre outros. Braga também fez uma análise da economia brasileira, que há alguns anos era visto como um país promissor. O que deu errado? Na verdade, argumentou o palestrante, no Brasil há um dos maiores custos do mundo em se fazer negócios, tornando nossas empresas menos competitivas no cenário mundial.

A burocracia e, principalmente, o sistema tributário afeta dramaticamente a produtividade nacional. A infraestrutura é insuficiente e precisa de investimentos urgentes. “A competitividade internacional brasileira vem declinando nos últimos anos. Em 2017, ficamos acima apenas de países como Mongólia e Venezuela”, exemplificou. Além disso, a imagem externa brasileira é péssima, com uma desconfiança tremenda. Tem solução? Somente se o Brasil fizer reformas estruturais essenciais. Sem isso, não há expectativa de melhora. Com as reformas, aumento da credibilidade e uma governança política positiva, o Brasil poderá crescer de forma sustentável e ser um país de expressão no cenário mundial

O palestrante Rafael Cortez é sócio da Tendências Consultoria, doutor em Ciência Política pela USP, professor universitário, especialista em instituições brasileiras, política comparada e economia política. Falou sobre a corrida eleitoral e suas implicações para a economia. Disse que a eleição de 2018 poderá ser uma transição para um novo período político. Em sua argumentação, expôs alguns tópicos fundamentais para quem quer ganhar uma eleição.

Uma administração bem avaliada é fator essencial para se vencer uma corrida eleitoral. Portanto, como o atual presidente tem uma alta rejeição, o vencedor será alguém distante de Temer. Também mostrou como os grandes partidos acabam inibindo os menores com as coligações e o impacto do convencimento na campanha eleitoral. Citou ainda o “efeito Lula” como muito importante na decisão. A maioria da população brasileira concorda com as operações judiciais, como a Lava Jato, mas Lula mantém uma influência muito forte.

Com a pulverização de candidatos, Cortez acredita que o grupo centro-esquerda acabará colocando um candidato no segundo turno. Apresentou dados da última pesquisa DataFolha e argumentou que o eleitor busca o novo, pois está decepcionado com os atuais partidos. Por isso, Bolsonaro surge como opção, representando a novidade. Usou argumentos e dados para afirmar que, caso Marina Silva for para o segundo turno, é muito provável que ganhe a eleição. Explicou a dificuldade que o grupo de centro-direita tem de construir um capital pessoal, uma vez que a maioria dos nomes está ligada ao presidente Temer e à crise política, junto com o PT.

No final, mostrou a importância da política para o equilíbrio da economia. Afinal, o poder político domina as instituições econômicas, capazes de gerar o crescimento sustentável e a distribuição de renda. O desafio, a longo prazo, é gerar condições políticas para o desenvolvimento e isso passa, de imediato, por reformas estruturais, como a da Previdência, por exemplo.

Fotos: André Kopsch

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