O Dia Internacional da Mulher é uma data criada para celebrar as conquistas femininas ao longo dos anos e também lembrar que há muito ainda a ser feito. Ou seja, nada melhor para esse dia do que celebrar exaltando grandes mulheres. Hoje, vamos apresentar duas: Ana Paula Candeloro e Nelma da Silva Sá.
“É provável que se alguém dessas minorias tivesse tido as mesmas condições que eu, talvez fosse um profissional bem melhor do que sou hoje”. Com essa frase, Ana Paula Candeloro sintetiza o espírito que a levou a buscar um algo a mais em sua bem-sucedida carreira dentro do mercado financeiro. São nada menos que 27 anos de atuação marcados por passagens por instituições internacionais, que, por mais que tenham trazido conforto financeiro, deixaram uma espécie de vazio no que diz respeito à satisfação pessoal.
Tamanha inquietação a levou a montar, em 2016, o Projeto Caleidoscópio, que busca capacitar profissionais em situação de refúgio no Brasil. A infraestrutura para atender essas pessoas já estava praticamente montada com o Yiesia, uma consultoria estratégica para desenvolvimento de liderança empresarial fundada em 2011 pela própria Ana Paula. A novidade foi que, em vez de atender apenas altos executivos brasileiros, a consultoria passou também a dar atenção a pessoas que saíram de seus países de origem por motivos de guerras, conflitos étnicos ou perseguições religiosas, deixando para trás carreiras, bens materiais e, é claro, as próprias famílias.
O grande diferencial do Projeto Caleidoscópio é deixar para trás a imagem de fragilidade dos refugiados – muitos deles eram alto executivos e empresários em seus países de origem. Assim, o Caleidoscópio busca aproximar esses talentos das empresas brasileiras, em especial as de pequeno e médio porte, com o objetivo de que a expertise trazida por essas pessoas possa promover transformações na cultura organizacional destas companhias.
O formato de atuação foi inspirado no que viu durante seu curso de Mestrado em Sustainability Leadership, realizado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. “Lá aprendi que devemos ser agentes de mudança”, explica. A qualificação acadêmica de Ana Paula inclui também uma Pós-Graduação em Sustainable Business, pela mesma universidade, e graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (USP).
Os cursos realizados no exterior, aliás, estão diretamente relacionados a outra iniciativa que a especialista tentou no passado: um negócio em produtos certificados e sustentáveis, visando aproximar artesãos nordestinos dos grandes centros brasileiros. O empreendimento foi colocado em prática durante o primeiro momento sabático de sua carreira – o segundo foi realizado para completar seu Mestrado. Porém, o negócio não evoluiu por uma questão impossível de superar. ” Era muito difícil precificar e desvincular o projeto de uma atividade puramente capitalista e, por esta razão, preferi descontinuar as vendas” conta.
Fiel ao que acredita ser o melhor para a sociedade, Ana Paula já planeja seu terceiro momento sabático: uma viagem ao Butão e ao Nepal para estudar Economia Budista. “A preocupação com a economia budista e o capitalismo consciente está relacionada ao fato do Yiesia estar se transformando em uma empresa do Sistema B onde há o lucro com benefícios socioambientais e, por este motivo, estou lançando a consultoria formada por um coletivo de refugiados. Esta foi a maneira que encontrei para conectar uma atividade capitalista ao impacto social positivo gerado por ela, solucionando uma questão da sociedade e trazendo uma equação win win para todos”, indaga.
Na mesma linha social que pensa no coletivo vem Nelma da Silva Sá que foca seu trabalho em desenvolver o verdadeiro potencial do ser humano. Administradora de empresas, educadora e coach, a atual vice-presidente da Unipaz São Paulo canaliza todas as suas energias em um processo educativo que preza pelo autoconhecimento como chave para alcançar grandes objetivos.
“As respostas estão dentro de nós mesmos. Em meu trabalho, aplico a maiêutica como um dos caminhos para que cada um descubra o que é melhor para si, independentemente daquilo que a sociedade impõe como ‘certo’ ou ‘errado'”, diz Nelma, citando o método socrático que visa a descoberta da verdade por meio da resposta a algumas perguntas.
Inclusive, a técnica desenvolvida pelo filósofo grego permeia um dos muitos cursos de especialização da educadora. No caso, a certificação internacional em Coaching Maiêutica pela Global Accreditation Board for Coaching. O currículo de Nelma inclui ainda a pós-graduação em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano e a certificação pela International HOGAN para Coaching, Assessment e Desenvolvimento de Lideranças.
O segredo do sucesso do trabalho da educadora é justamente unir o conhecimento acadêmico com os mais de 25 anos atuando como executiva em grandes empresas. “No mercado, eu percebi como as pessoas confundem o sucesso profissional com o bem-estar pessoal, condicionando um cargo a um senso de realização. São poucos os que percebem o quão efêmera é essa sensação de sucesso. A felicidade vai muito além disso”, explica.
As crenças pessoais e o vasto conhecimento acabaram levando Nelma ao corpo diretivo da Universidade Internacional da Paz na Unidade de São Paulo que compõe os núcleos de Poços de Caldas, Campinas e Belém e é parte integrante da Rede Unipaz. cujo foco principal é formar pessoas capazes de colaborar com um mundo melhor.A Unipaz, inclusive, adota como metodologia em todas as suas atividades uma abordagem transdisciplinar holística que propõe uma visão não fragmentada da realidade, favorecendo o equilíbrio das quatro funções psíquicas preconizadas pelo pai da psicologia analítica, Carl Jung: pensamento, sentimento, sensação e intuição e buscando o diálogo entre arte, ciência, filosofia e tradições espirituais.
“Todo o processo para transformar o mundo deve começar por nós mesmos, por meio de pequenas ações e do autoconhecimento”, diz Nelma. Seu exemplo de vida é a prova disso.