Mulher forte, guerreira, ex-militante política, artista plástica, poeta, mãe de dois filhos, Licenciada em Teatro pela USP, a atriz Cláudia Alencar visitou Joinville exatamente no dia em que o país acordou com a notícia da morte de José Wilker. Profundamente emocionada, Cláudia subiu ao palco da 11ª Feira do Livro de Joinville para falar sobre poesia, no lançamento de seu quarto livro do gênero: Refinamento e Loucura. Antes, conversou um pouco sobre sua vida – e suas artes.
Quem sou eu
– Sou atriz e poeta, não necessariamente nesta ordem, porque as duas artes são similares. Gosto de dizer que a literatura é a grande inspiração das artes cênicas. E que a atriz se projeta para o outro – buscando dentro de si, as características de seus personagens. Já a poesia é uma experiência abissal, solitária, dolorosa – um mergulho em nós mesmos.
A arte em mim
– Leio e escrevo muito desde criança. E sempre de forma poética. Até minha prosa é lírica. Cheguei a ganhar um concurso nacional aos 14 anos. Nasci assim – toda forma de expressão em arte me incendiando. Aprendi a ler bons autores – como Machado de Assis e Cecília Meirelles. Fiz dança também, me dedico às artes plásticas, mas meu perfil de atriz, que foi preponderante por um bom tempo, me escondeu um pouco. Para os outros, eu era um misto dos personagens que incorporava. Quando lancei meu primeiro livro de poesia, morri de medo. Porque me desnudei.
Sem censura
– Defendo, sempre defendi, o livre direito de expressão. Neste quarto livro, um amigo tentou censurar um poema meu – em que eu fazia sexo com Jesus Cristo. Não permiti – porque me permito. O poema está no livro. Sonhei com aquilo.
Workshops
– Eu costumo dizer que atualmente estou em um processo muito importante, de compartilhar o que já aprendi e vivi. Tomo de volta, a professora que sempre esteve em mim. Dou palestras, oficinas e workshops sobre temas relacionados à arte de viver. Gosto dos temas voltados à questão feminina – e às muitas mulheres que habitam cada uma de nós. O mais recente, que se chama “Resgate sua Essência” eu quero oferecer à Escola Bolshoi. Jogos dramáticos, improvisações e meditação guiada são a base dessa experiência que, acredito, oferece uma vivência corporal, cognitiva e anímica que ajudam em muito a quebrar padrões repetitivos e dão mais coragem de enfrentar a nós próprios.
Não vivo sem…
Meus filhos Yann e Crystalrte
Ar
Comida nutritiva
Leio
Machado de Assis
Mário Quintana
Cecília Meireles
Katherine Mansfield
Sobre José Wilker
– Ele foi embora por um tiro no coração, disparado por Deus. Mas foi embora muito cedo. Um ser humano doce, generoso, compreensivo. Eu sempre o vi como um ícone da dramaturgia brasileira, era um leão. Nos últimos anos, andou um pouco domesticado, sentia muita falta de sua poderosa vocação artística. E eu sempre acreditei que os problemas de coração acontecem pela força de muita tristeza. Uma tristeza tanta… Acho que o Zé Wilker ficou nos devendo muita arte. A nós e a ele próprio.
Entrevista realizada por Ana Ribas Diefenthaeler da Mercado de Comunicação, responsável pela assessoria da 11ª Feira do Livro de Joinville.